Cristine Szutz Zimmerman

Ache-me pela cidade.
Sofro de complexo de acausalidade.

Aqui, agora
o tempo demora.
Meu amor é confeito
de sal e de amora.

A causa essencial de um arco teso
pode ser a liberdade de uma seta.

Nascemos cegos e néscios.
E no entanto sonhamos todas as noites com os tesouros do arco-íris.

Levanto-me de joelhos.
A manhã explode em granadas de luz
colhidas no colo de uma romã.

Como me pesa, oh Creon!,
como me pesa a espada aguda do destino.
Neste frágil vaso de almagre
encerram-se os mistérios de uma
lei que não conhece nem o tempo, nem o espaço.

O romantismo alemão é deliciosamente anti-rousseauniano. Helás! Nossa história é mais interessante que as águas compassadas. Tudo o que é vivo decai no pavoroso abismo.
“O mais profundo âmago de nossas almas está coberto de noite” (Herder).
A nossa felicidade é a soma de todas as eras.
Rousseau já era!

A pergunta busca reexistir na resposta.
Por que temos tantas respostas e
escasseiam as perguntas?
Não me responda o que não posso perguntar!
Não corresponda com o silêncio.
Sejamos desiguais nas angústias.
Sem perguntas.
Nem respostas.

É noite alta.
As damas se revelam ao perfume das estrelas.
Um rastro de luz desenha arabescos sombrios na janela.
A vida se resume num livro místico que finda
onde tudo começa.

Café.
Cabule!
Passeie no dorso de um camelo de caramelo em Cabul.
Fotografe-se!
Encabule-se!
Tire os chinelos na China e plante estrelas na palma dos pés.
Sente-se, relaxe e espirre calmamente.
Conte um conto e se encante no canto.
Recôndito.
Onde o amor se esconde?
Ora, na fruta-do-conde!
Onde se encontra?
Na onda do meu camelo de caramelo
em Cabul,
tomando café
do bule.

A chuva deita delicadamente seus cristais na relva.
O movimento das estrelas revolve o átrio de rubis
eis o tesouro secreto!
Na sala de pedra carmim, à esquerda, sempre à espreita, se acha o desideratum;
à direita, rumora o senhor marmóreo.
Acima trovejam as rochas do pensamento,
abaixo crepitam as chamas de grandes fornalhas.
No meu centro, infinito, em silêncio absoluto,
reside
o
nada.

Capte-o!
Vertedouro de águas profundas,
consuma-o.
O fim de todas as lágrimas é sempre o mar.
Amar
Às vezes o encontro amaro.
Amar santo,
Santo Amaro,
amassas e conformas o barro essencial desse jarro santo!

Querida: luneta é para a lua.
Perneta para as pernas.
Veneta para ver a delicada vênus desnuda.

Um rio, não ria.
Os rios não se emasculam pelo gênero.
Há os que correm com a delicadeza de uma Anna Livia Plurabelle.

Ermitânio Prado:
Uma ribeira, doce Cristine, uma ribeira é o que lhe falta.
Um braço frágil do mar,
não ria,
não é um rio.

“Ribeira dos meus cuidados / Minha voz é solidão” (Cecília Meireles).

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